Opinião: Robôs compram carros?

por Wallace Wyss –

Se eu tivesse tempo de vida suficiente para mais 3 ou 4 carreiras, adoraria ser um modelador de argila para uma montadora. Talvez seja tarde demais para ser um dessa vocação decrescente — eles estão usando o que é chamado de máquinas de 5 eixos para talhar um carro de milhares de libras de argila, de acordo com medições ampliadas de um pequeno modelo de apenas um pé ou mais de comprimento.

Modelo de argila Aston Martin (foto da Aston Martin)

As argilas em tamanho real acabadas usam caixas de madeira para suportar milhares de libras de argila. Se fossem todas de argila, seriam pesadas demais para serem movidas. As máquinas levam cerca de dois dias para fazer isso. Costumava levar semanas.

Mas uma ameaça maior para os designers de carros é que a inteligência artificial (IA) logo será usada mais e mais para criar o design básico. Os humanos olharão para os desenhos gerados por robôs e alguém dirá “OK, vamos para uma argila” e uma máquina cortará a argila.

Não, o que me preocupa é que, antigamente — os anos 50 — levava semanas para uma equipe de modeladores renderizar um modelo de argila tão realista que poderia ser confundido com um carro em movimento (exceto que tem janelas escurecidas). A pintura hoje em dia é feita com um filme chamado Di-Noc. Agora, com a IA (sendo ensinada no Art Center College of Design), leva apenas dias, talvez dois ou três para fazer um design quase apresentável.

O que eu temo é que os carros são feitos para humanos. Humanos têm que dirigi-los, andar neles. Eles sabem mais do que uma máquina o que parece bom. O que faz os humanos se sentirem bem. O que atende às suas expectativas.

“Futuro Aston Martin em Big Sur” por Bing AI – criado por Mike Gulett

Talvez eu esteja me preocupando desnecessariamente, mas temo que estamos chegando a um ponto em que novos designs de carros serão aprovados para produção sem que humanos intervenham, passem as mãos no modelo de argila e, uma vez que a cor é adicionada, vejam como o formato fica na iluminação natural externa em diferentes momentos do dia. Estou falando de considerações estéticas. Robôs não têm estética.

E os computadores só sabem o que sabem ou ao que foram expostos. Eles, por exemplo, sabem que a grade do Dual Ghia estava inserida cerca de 4″ atrás do entorno cromado? Uma polegada não daria a mesma impressão. A inserção profunda é o que faz o carro parecer tão bom. O computador só sabe o que lhe foi dito, ao que foi exposto. Não como os humanos que podem ter vislumbrado, em uma fração de segundo, digamos, um cupê Mercedes 300SLR ’55 (sim, a Mercedes fez alguns) e querem fazer uma versão moderna daquele conjunto exclusivo de saídas de ar laterais (retangulares com um cano de escapamento saindo).

Os humanos trazem muito para a mesa. A IA só traz o que pode roubar em uma varredura instantânea por milhões de imagens. Acho que basicamente o que estou dizendo é: quanto menos o design de um carro depender de humanos adicionando sua influência, menos alma um design de carro finalizado terá.

Estou até preocupado que, eventualmente, um novo design de carro vá de desenhos gerados por IA para um modelo de argila dirigido por IA para um carro de produção dirigido por IA. Será uma criação de máquina.

As empresas de carros vão se gabar disso. Os robôs ficarão felizes. Mas robôs compram carros?

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O AUTOR Wallace Wyss, um historiador automotivo de longa data que escreveu 18 livros, foi palestrante convidado sobre história automotiva no Art Center College of Design.
Ele pode ser contatado em Malibucarart@gmail.com.